Bentinho, CR7 e a interpretação na comunicação atual

Henrique Gomes
3 min readJun 25, 2021

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No livro Dom Casmurro, belíssima história de Machado de Assis, a relação entre Bentinho e Capitu ainda gera controvérsia mais de 1 século depois de lançada. Traiu ou não traiu? Cada leitor tem sua opinião, chegando ao ponto das diferentes visões gerarem estudos para cada uma das possíveis teorias. E o livro foi brilhantemente escrito para deixar essa conclusão no ar (ao menos é o que diz uma das perspectivas).

Interpretação é tudo! Isso vale para diferentes momentos da comunicação. É algo mutável, mesmo se colocado em cima de um mesmo tema. Depende da vivência, personalidade, repertório de quem está em contato com a mensagem, como no caso dos leitores do livro citado.

Com tanta informação e conteúdo gerados diariamente, a interpretação das mensagens se torna ainda mais determinante para o sucesso da comunicação. É interessante notar, por exemplo, como duas informações reais podem se juntar para formar outra que não necessariamente seja verdade, tudo por conta da interpretação.

CR7 fazendo a Coca virar água.

Essa semana, nossa equipe estava comentando sobre o caso Coca Cola x Cristiano Ronaldo, que é um caso claro de informações reais que se conectam sem ter relação, como apontei acima. Não vou aprofundar nos acontecimentos, mas refletir sobre o desenrolar. Fatos: as ações da Coca Cola caíram (e já vinham caindo antes por conta dos movimentos do mercado, que não sou especialista para apurar) e o Cristiano Ronaldo retirou as embalagens do refrigerante da sua entrevista, colocando uma garrafa de água (e quem segue ele sabe que não deixa nem o filho beber refrigerante por conta da saúde física). Dois acontecimentos reais com seus caminhos individuais, sem estarem conectados até então. Parando para pensar, juntar as duas questões até que é uma história que faz sentido, não é algo surreal. Mas isso não é realidade, não existe conexão entre as duas coisas. Houve uma manipulação para criar isso. Isso é um prato cheio para o marketing e para a mídia, que precisa de mais cliques, que gera mais tráfego, que traz mais anúncios, que gera mais receita. Ufa!

Comparo isso com o caso da Taylor Swift e meu querido Corinthians: por mais que a fanfic seja tão legal, não ganhamos porque a cantora lançou álbum novo, apesar da gente (quase) sempre ganhar quando ela lança um álbum. Os dois também geram buzz. Juntos, torna-se a matéria ideal do clickbait.

Taylor Swift, mais um reforço para o elenco do Timão.

Aquela imprensa que analisa, investiga, apura, confecciona o texto para publicar, hoje trabalha lado a lado e muitas vezes bancada por esse formato, digamos, sensacionalista.

Nós, do marketing, adoramos um cenário ideal (isso é provocação para outro texto): o enredo fica muito mais legal tendo o CR7 com influência a ponto de mudar tão rápida e bruscamente o mercado financeiro, que também não é tão sensível, e imaginando que a Taylor é um amuleto da Fiel. Só que não é bem assim que funciona. Precisamos ficar atentos: a interpretação é importante, imprevisível e tá solta, pronta para mudar qualquer mensagem. Até essa aqui.

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