Como ficam as marcas no contexto atual?

Henrique Gomes
3 min readApr 30, 2020

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Semanas atrás postei no LinkedIn que as empresas haviam se lembrado que existia o T (ameaças) dentro da análise SWOT. Creio que, salvo exceções da área médica ou científica, é improvável qualquer menção a uma pandemia, em qualquer planejamento, antes do que estamos vivendo. É definitivamente um fato que ficará registrado na história, do tipo que grande parte dessa geração nunca havia passado — e torcemos para que nunca mais passem em suas vidas. É um momento econômico instável justamente porque não existe economia sem pessoas e a prioridade agora deve ser somente salvar vidas.

Dizer que o mundo mudou é chover no molhado, pois as mudanças de hábitos, que já são vistas de forma clara dentro de nosso círculo de relacionamento e em todas as nações do mundo, ganharão outras proporções quando tudo se acalmar. Fomos retirados a força da tão temida zona de conforto para enfrentar a mais recente possibilidade de extinção da nossa raça.

Como ficam as marcas no contexto atual?

Bom, partindo do princípio que toda marca é constituída de pessoas, construída por pessoas para consumo das pessoas, segue o mesmo discurso citado para economia: aguardando que as necessidades vitais, as duas ou três partes da base da pirâmide de Maslow, sejam supridas para retornar suas atividades. Não existe outro caminho.

Apesar da nostalgia que as reprises de novelas e jogos de futebol antigos estão nos trazendo — e parafraseando uma de minhas maiores referências, Ricardo Guimarães -, o momento não é evolução mas de transformação. Precisa-se pensar e agir diferente. Novamente citando Guimarães, uma metáfora muito interessante para isso, baseada no livro Tornando-se Imaginal, de Thomas Rudmik, é a transformação da lagarta em borboleta: a mudança não é para uma lagarta evoluída, com mais massa e robustez, mas para outra coisa totalmente diferente, uma borboleta com toda sua leveza para voar e perpetuar e espécie.

É hora de observar cada movimento e ter compaixão para tentar entender a atitude e a reação das pessoas. E é essa observação que vai levar à ação, entendendo e se posicionando (no gerúndio mesmo porque precisa ser contínuo dentro desse contexto volúvel) próximo das pessoas através do seu propósito, e com a humildade de moldá-lo para entender as necessidades.

Por fim, é preciso criatividade para que a sua mensagem seja entregue de forma interessante e assertiva a todos públicos da marca. O mundo digital ficou mais competitivo, afinal organizações têm basicamente esse meio para existir. Mas como ter a mesma atenção de artistas que vem se humanizando em lives bem produzidas, que mostram suas casas, suas famílias, seus defeitos e principalmente seu enorme talento e carisma para manter milhões de pessoas entretidas com sua arte? Como você deseja relevância enquanto a indústria de memes está a todo vapor, alegrando as pessoas com alta capacidade produtiva e criativa, trazendo de volta até os dançarinos de funerais de Gana? Como se igualar à visibilidade de um Big Brother Brasil, onde paradoxalmente já não sabemos se os confinados são eles ou nós? Como “competir” com publicações feitas por parentes e amigos que estão distantes com a quarentena ou até de notícias que precisam ser passadas e estão em primeira mão nos principais canais online?

As marcas ficarão em segundo plano (e precisam ficar), não tem jeito. A diferença agora está em quem entrega seu propósito sem interesse direto em lucro ou venda, mas com um valor intangível que se conecte com as pessoas através de um sentimento comum para ser lembrado em um outro momento. Você já pensou se sua empresa sabe se comunicar quando fica em segundo plano?

Estamos em quarentena, porém vivíssimos. Assim como Rapunzel, trancados em nossas torres, porém resignificando alguns momentos importantes como fazer uma aula, ler um livro, ficar com os filhos, falar com a família. Nesse contexto complicado, o desafio é esse: observar e passar a mensagem da marca de forma genuína e diferenciada, sem espernear por atenção. Para todo mundo, o momento é de transformação e de atitudes diferentes.

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